quarta-feira, 25 de maio de 2016

Reflexões sobre a roda de conversa e leitura na Educação Infantil

por: Carolina Torres*


Um tema como este só pode ser tratado a partir de um ponto de vista específico que é o da escola que chamamos de “nova”, em que há uma visão democrática de educação e em que o aluno é visto como tendo muito a contribuir para a direção do processo de aprendizagem.  Neste modelo, que segue o construtivismo e muitas das visões de Paulo Freire, a roda está presente como lugar de escuta, de fala em que a criança tem o lugar de um ser ativo e construtor de conhecimento, além da visão reconhecer a infância como o momento propício para a entrada na sociedade através da convivência com seus primeiros pares, da mesma idade ou não, na escola, seus primeiros “conhecidos” que não são de seu núcleo familiar.

De acordo com a visão explicitada, a escola é vista como lugar de construção de conhecimento e de troca, onde o diálogo é a forma em que esta construção acontece.

A roda pode acontecer desde o menor grupo, de 1 a 2 anos, focando-se na comunicação baseada em relatos que os pais mandam e através de manifestações não verbais, e deve manter o lugar de importância em todos os níveis de educação posterior a este.


O grupo que vou tomar como exemplo, por ser minha área de atuação há 08 anos, é a faixa etária de 03 a 04 anos de idade. Nesta idade, a fala das crianças já está começando a se estabelecer e o funcionamento e importância da roda também, caso a criança já esteja na escola anteriormente, mas, se não estiver, já há uma capacidade de compreensão sobre a importância da fala e da troca com os colegas que vai se construindo.

É em roda que as crianças se escutam e através dela, se identificam com seus colegas, criando laços de afinidade, pois passam a perceber o outro a partir de sua fala, com suas diferenças e semelhanças e podem se relacionar, formando vínculos cada vez amis fortes e profundos. É assim que um punhado de crianças que se conhece bem pode se tornar um grupo de fato, que se conhece muito bem e se relaciona.

A roda é o lugar de se olhar, de escutar, de falar e de ser ouvido. É onde os pequenos elaboram seu discurso, aprendendo a perguntar, a responder, a escutar a resposta e a pergunta do outro, podendo refletir e se colocar sempre que precisar.

Quando compreendem que este é o espaço garantido que eles têm para se colocar, as crianças guardam suas “novidades” para contar no momento da roda, e trazem suas intimidades, eventos importantes que acontecem fora da escola para dividir com os amigos, demonstrando perceber exatamente a importância dela e do suporte que o grupo pode dar para que ele elabore e até valide ainda mais suas ideias e vivências mais intensas.

O grupo passa a dividir estas intimidades e se comparam ou se diferenciam dos outros aprendendo a respeitar e conhecer formas diferentes de sentir, se colocando pelas primeiras vezes no lugar do outro para conhecerem melhor a maneira diferente do outro ser, as realidades diversas sejam físicas, familiares, culturais que existem e que podem ser diferentes da realidade que vem do núcleo familiar de cada um. 

Assim ocorre a primeira inserção no mundo social e a criança pode aprender a conhecer e respeitar o outro mesmo que seja muito diferente de si mesmo. Conversas nesta faixa etária podem ser muito profundas, pois questões como nascimento, morte, diferenciações entre os sexos e curiosidades sobre o funcionamento e o “porque” das coisas começa ali.

A roda também é momento de leitura e se lê e ouve histórias clássicas ou contemporâneas, parlendas, poesias e as crianças aprendem a distinguir os diferentes portadores e formas de textos, fazendo leituras de imagens e até memorizando longos enredos que através da repetição podem até ser recontados por eles com apoio das imagens.

Nela também podem ser elaborados projetos de pesquisa com os pequenos, com conversas que são disparadoras de um caminho de pesquisa que pode fazer sentido ou não para o grupo e para isso o professor deve estar atento e sensível ao que o grupo está interessado, sem impor um tema que não lhes mobilize a pesquisar. Alguns exemplos de projetos interessantes nesta faixa etária são projetos sobre animais, brincadeiras cantadas, instrumentos musicais, jogos, construção e brinquedos com sucata, sentimentos, apreciação de obras de arte, sobre a gravidez e o nascimento deles, sobre os cinco sentidos, entre outras infinitas possibilidades. 

Na roda podemos fazer a primeira sondagem de um possível tema de projeto para ver o que eles já sabem, se é um tema que lhes interessa e por onde podem começar a pesquisar, seja com a apresentação de uma atividade prática, com livros informativos, com imagens, vídeos, etc.

Este é um momento da rotina na educação infantil que é espaço de troca de conhecimento, de intimidade e de formação de grupo e em que o grupo se encontra inteiro se olhando e com a possibilidade de compartilhar a mesma experiência, com espaço de se manifestar. É um dos momentos mais intensos e interessantes justamente pela riqueza das trocas que posem acontecer ali, quando dado o espaço de manifestação garantido a todos. 

*Reflexões compartilhadas no V Congresso Práticas de sala de Aula ICLOC em 18/05/13

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Sobre o documentário "O começo da vida"



Olá, 

Venho falar um pouco sobre a experiencia que tive ao assistir este documentário tão delicado e interessante sobre a primeira infância.

Entenda primeiro que trabalho com psicologia e com educação infantil, portanto este assunto que já é sensível para qualquer ser humano existente na face da terra, para mim, ele é pelo menos duas vezes mais sensível.

Bem, o viés trazido pelas diversas realidades abordadas nele, tratam de uma realidade comum entre os países de primeiro ou último mundo, que é a necessidade do cuidado das crianças pelos adultos. Existe até uma realidade apresentada ali em que crianças cuidam de crianças e que mostra como a pobreza extrema mina a capacidade de sonhar de uma criança em 100%, gerando uma angústia imensa no telespectador.

A questão simples está no vínculo. O sumo do supra sumo do filme é mostrar o quanto não é importante nenhuma outra circunstância para o bebê na vida do núcleo familiar neste início, além do vínculo. Não interessa o espaço, a temperatura, a alimentação, o nível de higiene ou sofisticação, não interessa a língua que é falada, o que interessa é necessidade de haver um vínculo forte com um cuidador, seja ele quem for. Pode ser a mãe biológica ou adotiva, pode ser um pai, uma avó, um avô, uma tia, uma babá, uma irmã ainda pequena também, uma educadora em um abrigo, outras crianças em uma comunidade, pode ser quem for, mas precisa haver um vínculo. 

E é essa necessidade de vínculo que precisa haver entre um bebê e uma pessoa que seja referência para este bebê que faz a necessidade vital de haverem políticas públicas direcionadas ao cuidado da primeira infância, porque é dando possibilidade para que estes cuidadores cuidem é que se fará a humanidade futura possível. Se não há espaço para se pensar nesta etapa da vida como importante, sendo que é ali que toda a base para a formação de uma personalidade se forma, não haverá paz, não haverá justiça, não haverá um mundo mais coerente. 

O filme apela para o telespectador no sentido de fomentar o desejo de ajudar, seja como for, pessoalmente, ou através de doações ou de direcionamento de alguma ajuda aos cuidadores das crianças, já que não é possível ajudar nenhuma criança diretamente, mas apenas através do cuidado dos cuidadores. 

Entendo a abordagem e acho importante como material de reflexão e de pensamento sobre o tema. Ao mesmo tempo me questiono sobre os interesses que existem por trás dos patrocinadores do filme, mas não acho que isso desmereça o trabalho lindo que foi feito de entrevista, filmagem e de olhar cuidadoso sobre famílias tão distintas vivendo em situações tão diferentes e sempre, com o olhar carinhoso para o bebê a frente deles. 

Vale a pena. Se você for da área ou não, como membro da humanidade, eu indico assistir ao filme.

Leve lenços! :)

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Um abraço!
Carol
carolinatorrespsicologa.blogspot.com.br

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Proposta de projeto sobre Bichinhos de Jardim realizada com crianças de 4 anos



Projeto Bichinhos de Jardim

Realizado por crianças de 4 anos (2015)

Tema relacionado ao eixo natureza e sociedade previsto nos Referenciais Nacionais para a Educação Infantil para esta faixa etária.

Objetivos: aguçar a curiosidades das crianças em relação aos animais, à natureza, à organização social de alguns deles (formigas, abelhas, etc), conhecimento da relação do homem com a natureza, como no cultivo de mel, uso da seda, das minhocas, etc.

Etapas:

1 - Introdução do tema

Inicialmente buscamos pelo interesse espontâneo das crianças após apresentação do tema em roda de conversa.

A partir da resposta do grupo de buscar bichinhos para trazer para a escola, passamos a conversar sobre montar com eles um viveiro em sala, pesquisando primeiro como montá-lo a partir de livros e da visita ao “Sabor de Fazenda”. Lá aprendemos a plantar um vaso de trevo e adaptamos a ideia a montagem do viveiro com as camadas de pedra, areia e terra.

2 – Montagem do viveiro e passeio ao Sabor de Fazenda

Montamos a base do viveiro com ajuda deles e colocamos nele algumas plantas que foram cultivadas por eles com sementes das frutas do lanche como pera, maça, melancia, mexerica, entre outras desde o primeiro semestre.

Nele as crianças colocavam os animais encontrados fora da escola como tatu bola, formiga, maria fedida, esperança, taturanas e lagartas, besouros, piolhos de cobra, caracóis, caramujos, joaninhas, minhocas, louva deus, barata de jardim, vagalume, etc.

Montamos também um Insetário com animais que eram trazidos mortos como um besouro gigante que encontramos no acantonamento, borboletas, cascas de cigarra e cigarras adultas, abelhas, cascas de caracóis, vespas e outros animais que iam falecendo no nosso viveiro. Além disso, guardamos casulos que iam ficando vazios após o nascimento das 5 borboletas e mariposas que nasceram ao longo do semestre e que soltamos.

Observamos a transformação destes animais calculando o tempo e tentando prever o tamanho e a cor que teriam após saírem do casulo. Pesquisamos as diferenças entre mariposas e borboletas, soltamos todos os animais que voavam supondo que seria sofrido para os que conseguissem voar ficar confinados num espaço tão pequeno.

Observamos o nascimento de cerca de 40 ovos do caramujo gigante africano que um dos alunos trouxe, além da proliferação de tatu bolinhas que apareciam pequeninos ao longo do tempo, assim como os caracóis pequenos.

3 - Pesquisa em livros, passeio ao “Planeta Inseto”

Num segundo momento, a partir dos acontecimentos de nosso viveiro fomos buscar informações em livros sobre insetos, sobre ecossistemas, sobre árvores e sobre animais em geral. Iniciamos a sistematização dos conhecimentos adquiridos em um livro geral do grupo sobre o que íamos aprendendo nos livros, em vídeos que assistíamos sobre alguns animais específicos e o documentário “Microcosmos”, trazido por um dos alunos. Nele, pudemos ver alguns hábitos que os animais de jardim tem quando livres na natureza através da filmagem com microcâmeras que os deixaram impressionados.

Além disso, fomos buscar mais informação no Museu da USP sobre o tema, chamado “Planeta Inseto”. Nele descobrimos a diferença entre insetos e outros animais de jardim como as aranhas, caracóis, minhocas e outros. Conhecemos o bicho pau, bicho da seda, mais sobre animais sociais como as abelhas e formigas, sobre a importância das baratas, entre outras coisas.

Pesquisamos mais em sala com nossos insetos com o uso de lupa e manuseio de alguns deles e fizemos muitos desenhos de observação chegando a montar um livro individual para cada um sistematizando nossa aprendizagem que unia os desenhos produzidos por eles as informações levantadas também pelo grupo.

Introdução de histórias, poesias, músicas sobre o tema, como “Cigarra e a Formiga”, músicas “Minhoca Dorminhoca”, “Borboleta pequenina”, etc.

4 – Brincadeiras simbólicas

Construímos teias de aranha com fios e tela, teias gigantes com elásticos para que eles pudessem vivenciar serem aranhas e também pintamos o rosto deles com maquiagem, montamos uma floresta em sala para que eles pudessem vivenciar serem bichinhos de jardim, montamos casulos com tecidos para que pudessem brincar de serem borboletas.

Fizemos brincadeiras com caixas e depois eles pitaram e colocaram elásticos nas caixas como se fossem as casinhas dos caracóis para brincarem de ser caracóis.

5 – Atividade plástica

Além dos desenhos de observação dos insetos que fez com que muitas das crianças que ainda não estavam tão interessadas pela figuração conseguissem figurar, montamos um painel com borboletas pintadas por eles em transparências com cola plástica e a técnica de pintura espelhada para fazer as asas delas, eles fizeram bichinhos feitos com argila e pintaram, colagem com borboletas e introduzimos as obras de Monet em que ele pintou os jardins de sua casa e fizemos com eles uma observação de seus quadros e pintamos telas no parque, além de fazer uma pintura ao ar livre na praça Horácio Sabino num último passeio do semestre.

Construímos painéis com a técnica de figuração com tesoura, além de desenho, pintura e colagem.

6 – Contagem


As crianças contabilizavam os bichinhos que chegavam por tipos e espécies e também os dias de espera da transformação dos casulos.